“Miau” deixa liderança da CASA-CE

O líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), André Mendes de Carvalho “Miau”, anunciou hoje a sua saída da liderança da segunda maior força da oposição angolana, a pedido de quatro dos seis partidos que integram a coligação.

André Mendes de Carvalho “Miau”, que substituiu no cargo Abel Chivukuvuku, em 2018 e depois de o ter apunhalado pelas costas, disse que deixa a coligação com sentimento de dever cumprido, rejeitando os argumentos apresentados na carta, que não foi subscrita pelos presidentes do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, e do Partido de Apoio para a Democracia e Desenvolvimento de Angola – Aliança Patriótica (PADDA-AP), Alexandre Sebastião André.

A carta é assinada pelos Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA), Partido Nacional de Salvação de Angola (PNSA), Partido Pacífico Angolano (PPA) e Partido Democrático para o Progresso de Aliança Nacional Angolana (PDP-ANA).

Segundo André Mendes de Carvalho “Miau”, há alguma insatisfação da parte dos partidos signatários da carta, que pedem para colocar o cargo à disposição, devido ao seu desempenho como líder da CASA-CE.

“E como sou presidente da CASA-CE com base num convite que eles haviam feito para eu presidir à CASA, se eles hoje não estão satisfeitos, naturalmente que eu tenho de aceder e devolver-lhes a presidência”, referiu.

O político, que garantiu continuar na coligação e como deputado à Assembleia Nacional, disse que tem a sensação que se na altura em que aceitou ser presidente não o tivesse feito “provavelmente a CASA não se teria mantido unida”.

“E acho que aquilo que eu fui fazendo, embora algumas vezes incompreendido, tracei o caminho adequado para que a CASA-CE possa ter um bom resultado e preencher o espaço que vai da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola, maior partido da oposição] ao MPLA [Movimento Popular pela Libertação de Angola, partido no poder]. Há aí um espaço sedento de ser preenchido e a CASA-CE era de facto um candidato a esse preenchimento”, disse.

André Mendes de Carvalho “Miau” reconheceu que os partidos estão no seu direito de pedirem que ponha o cargo à disposição, mas os argumentos usados, que não revelou, “são completamente falsos”.

“E é isso que eu lhes disse em resposta, que estão no direito de pedirem a presidência, que eu devolvo a presidência, mas que não tinham a necessidade de inventar falsidades, que não os honram, não os dignificam. Por ora, deixo a coisa assim, mas se necessidade houver podermos depois trazer isso a público e verificar que são muitas falsidades que usaram para tentarem justificar a minha saída da CASA-CE”, adiantou.

O também deputado da CASA-CE disse que vai trabalhar essencialmente no parlamento, porque não quer “fazer sombra” ao novo líder da coligação, acrescentando que lhe foi feita uma proposta para ser conselheiro principal do novo presidente, que não sabe quem será.

“Mas eu não posso aceitar isso por uma simples razão, se enquanto presidente eles entenderam que as estratégias e os caminhos que eu apontava não são os mais adequados, então que conselhos é que eu vou dar ao novo presidente, eu penso assim, porque a minha convicção é essa, não vou dar conselhos diferentes daquilo que de facto penso”, indicou.

O ex-líder da segunda maior força da oposição angolana considerou a medida tomada pelos seus colegas “precipitada”, porque se aproximam as próximas eleições gerais, em 2022.

De acordo com André Mendes de Carvalho “Miau”, enquanto líder apresentou como estratégia e prioridade a criação de núcleos para organização dos militantes, o que “é um trabalho mais aturado”, mas os seus companheiros não estavam habituados a isso.

“Preferiam as caminhadas, com os altifalantes, isso sim senhora, é agitação, faz parte do trabalho, mas se quisermos mesmo ocupar esse espaço, que vai da UNITA até ao MPLA, esse espaço central, temos que ter uma estratégia diferente, e a primeira medida é mesmo a infra-estruturação do partido, o seu enraizamento no seio da comunidade”, apontou.

“Infelizmente, essa orientação conheceu resistência da parte de alguns companheiros e nós fomos insistindo e tivemos esta diferença, entre outras, agora que as eleições se aproxima, acho que vão sentido algum receio, estão preocupados em ver se de facto vamos conseguir atingir os objectivos e é esse nervosismo e esse receio que é uma das causas que lhes leva a esta medida, que considero precipitada, mas estão no seu direito de a poder fazer”, frisou.

André Mendes de Carvalho “Miau” disse que há também um vice-presidente da CASA-CE com aspiração à liderança da coligação, o que é legítimo “não é crime, não é pecado, mas deve é fazer as coisas de maneira própria e não dizer que o trabalho está a fracassar”.

“Sem inserção da CASA-CE na comunidade, nós não vamos de maneira alguma atingir um bom resultado, a minha meta eram 50 deputados, vamos ver o que é que os novos líderes poderão fazer neste sentido”, disse.

Sobre a batalha antiga, já deixada por Abel Chivukuvuku, de transformação da coligação em partido, o presidente demissionário referiu que quando assumiu a presidência os partidos integrantes concordaram com o desiderato, contudo, passado algum tempo recuaram nas suas posições.

“Mas essa questão da transformação para partido político, é uma questão essencial”, considerou o político, frisando que nunca notou vontade deles para se transformarem em partido.

“Ainda estão muito apegados, cada um ao seu partido e eu não acreditei que fossem capazes de marcar esse passo, mas seria bom marcarmos essa ideia da transformação, uma ideia que une, chama novos membros, que permite competir com o MPLA e a UNITA de uma maneira mais igual, porque uma coligação de seis partidos, seis presidente, seis cabeças, cada um com o seu pensamento, é como um porta-avião a manobrar em águas restringidas”, salientou.

Quando assumiu a presidência da CASA-CE, em Maio de 2019, André Mendes de Carvalho disse que enfrentou problemas com a falta de quadros, preenchidos anteriormente por seguidores de Abel Chivukuvuku, e financeiros, com muitas dívidas contraídas nas eleições gerais de 2012 e 2017, na compra de carros ou material de propaganda.

“E quando arrancamos temos esse défice, défice em propaganda, porque as camisolas tinham sido feitas com o rosto do antigo presidente e só nesta questão das camisolas que tínhamos mandado confeccionar na China tínhamos uma dívida de 5 milhões de dólares [4,17 milhões de euros] e tudo isto fez com que houvesse um abaixamento naquilo que era o desempenho da CASA-CE”, disse.

Há homens, autênticos animais políticos, esculpidos especialmente na arte de espetar punhais, nos dias da semana, sem R (segunda, quinta, sexta, sábado, domingo) fazendo rodízio, com navalha e facão, nos dias com R (terça, quarta), forma masoquista de domar o alvo.

Como o Folha 8 escreveu em Março de 2019, a maioria acreditou não ter a CASA-CE pernas para andar, tendo no leme, André Mendes de Carvalho “Miau”, um militar (almirante) disciplinado, estudioso, impoluto financeiramente, mas, também, conhecido como o arquitecto dos golpes de Estado, em Angola, quando nos idos dos anos 90, criou a intriga palaciana de que Alexandre Rodrigues Kito, então ministro do Interior e amigo de José Eduardo dos Santos, Presidente da República, pretendia dar um golpe de Estado, apontando como elementos de prova a criação dos “Ninjas” – a PIR (Polícia de Intervenção Rápida) e a compra de um avião para o Ministério do Interior.

Com estes elementos, sem direito a contraditório, Alexandre Rodrigues Kito atravessou o deserto e nunca mais voltou a ter a mesma amizade com Eduardo dos Santos, que mais tarde, ao aperceber-se do embuste em que fora colocado, nunca nomeou “Miau” como, alegadamente, ficara acertado, para os cargos de ministro do Interior, da Defesa ou como Chefe de Estado Maior General das FAPLA. O máximo conseguido, foi o cargo de adido militar no Zimbabwe.

Ironia do destino, duas décadas depois, na oposição, “Miau” protagonizou a primeira grande rotura de um alto oficial militar, para abraçar a política activa, como candidato a vice-presidente da República de Abel Chivukuvuku, na chapa da CASA-CE, tornando-se num dos mais acérrimos confidentes do líder. Depois, na esquina das contradições e aberrações da (baixa) política, coube a “Miau” baixar o braço da guilhotina, naquilo que muitos, justa ou injustamente, consideram uma traição inqualificável. Em sua defesa, diz ter aconselhado o “mano” a ser mais tolerante e ouvir os outros e é na condição de “ouvir os outros” (partidos políticos), “sem ambição pessoal”, indiferente à derrocada da CASA-CE, que assumiu o cadeirão de Abel Epalanga Chivukuvuku.

Agora resta esperar que, lá onde o vento faz a curva, a história possa, um dia, julgar, desapaixonadamente, os actos de Alexandre Sebastião André, Manuel Fernando, Sikonda Lolendo, Felé António, André Mendes de Carvalho “Miau”, Abel Chivukuvuku, por terem frustrado as esperanças de milhões de angolanos, principalmente, os 20 milhões de pobres, num projecto que tinha tudo para dar certo, mas que a ambição, vaidades e miopia intelectual de uns poucos, a levou de derrota, em derrota até a derrota final.

Folha 8 com Lusa

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3 Thoughts to ““Miau” deixa liderança da CASA-CE”

  1. maria alexandre garcia

    A CORTE DE CATARINA DE MEDECIS. OS FILHOS COMETIAM INCESTO COM A IRMÃ. CASADA COM REIS SEM NUNCA SER RAINHA.OS FILHOS ASASSINARAM-SE ENTRE SI E PROVOCARAM O MASSACRE DE SAO BARTOLOMEU.
    CASA-CE FOI E UM COVIL DE TRAIDORES. DESCARADOS OU ENCAPUÇADOS.
    SABEM QUEM NEGOCIOU COM MIAU A ENTRADA DO BLOCO DEMOCRATICO?
    EU SEI. O BLOCO EM SILENCIO NA SAÍDA DE ABEL E EM SILÊNCIO E, DE NOVO EM SILENCIO NA SAIDA DE MIAU.
    MENINOS DE CORO QUEM ACREDITOU NA CASA-CE COM MIAU E BD!!!!
    MENINOS DE CORO. PERDEU-SE A ALTERNATIVA AO MOVIMENTOS ARMADOS E COM CULTURA DE ARMAS.ESTRAGARAM TODO.
    EU GABO-ME AVISEI O ABEL EM RELAÇAO A ESSES TRAIDORES.

  2. Observador

    O espiao cumpriu a sua missao

  3. “um projecto que tinha tudo para dar certo, mas que a ambição, vaidades e miopia intelectual de uns poucos, a levou de derrota, em derrota até a derrota final.” Fim de citação.

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